
Pela terceira vez consecutiva passei meu aniversário (data que considero importantíssima e de alta reflexão) na Bahia. Mesmo com o aliviamento das restrições, tinha que ser na Bahia o meu niver. Sempre.
Meu caso de amor com a Bahia já vem de longa data. Desde minha infância, passei muitos verões e réveillons em Ilheús, Comandatuba, Sauípe, Maraú, Barra Grande, Praia do Forte, Porto Seguro… Meus pais já sabiam o que era bom demais para me ensinar desde pequena.
Por que eu amo a Bahia? Como se fosse minha terra, minha origem, embora seja a típica paulistana arretada, ranzinza e neurótica?
Bem, em primeiro lugar tem as praias. De todos os tipos, com onda, parecendo piscina natural. Tem os coqueiros tristes (aqueles caídos emoldurando as praias). A areia geralmente é fofa e anda-se por horas. E aquele mar quentinho que só o Nordeste tem. Desculpe Rio, mas suas águas são geladas. Desculpe São Paulo, mas não tem brisa que nem na Bahia, então suamos às pencas . Desculpe Santa Catarina e demais sul do país…. nem vou continuar porque comparar é covardia.
Daí tem as comidas. Quando eu trabalhava com cerâmicas e tinha que impressionar um fornecedor gringo, eu sempre levava eles num restaurante de comida Baiana. Os italianos então, são os piores para admitir uma boa comida que não a deles. Mas quando eles provam uma moqueca ou um bobó de camarão, os olhos deles brilham e com um ar de derrota, admitem que tem comida das boas no Brasil. Até melhor do que a Itália, olha o sacrilégio.
E olhe que já tive históricos piriris com o tal azeite de dendê, alguns frutos do mar sapecas e dissimulados em seu sabor delicioso, e a pimentinha nordestina. Mas eu sigo firme e forte, provando todos os acarajés pelo caminho.
Tem a brisa baiana. Não importa se está fazendo um calor de 45 graus, na Bahia sempre tem ventinho bom. Cuidado com ele: você pode voltar um camarão no primeiro dia, porque o sol é impiedoso, ainda mais por aquelas bandas.
A Bahia tem preços módicos e muito justos, e apesar da enorme crise que assola o país e da alta absurda de combustíveis e luz, ainda dá para fazer muito passeio de barco, e comer em muito restaurante de primeira linha sem ter que esvaziar os bolsos.
Também tem muitos animais. Cachorros e gatos espalhados pela rua, que são de todo mundo. Confio em pessoas que cuidam dos animais.
Mas o mais importante, e que sem ele, talvez suas praias fossem frias, sua comida sem sabor, seu astral triste: o povo baiano é o melhor povo do mundo.
Toda vez que eu passo pelo túnel de árvores na saída do aeroporto de Salvador, eu sei que vem dias bons por aí.
Agora, em 2021, fui para Itacaré, Boipeba ,Morro de São Paulo e ainda passei um dia em Salvador. Não fui assaltada, não sofri nenhum tipo de violência, não tive nenhum contratempo. Posso contar no dedo as caras que não sorriram para mim, e todas eram de fora (argentinos ou paulistanos).
Na Bahia, todos te cumprimentam, dizem bom dia, sorriem para você e te olham no olho, sem medo de tomar uma invertida.
Ouvi falar de muitos atendentes baianos que os argentinos Hermanos são os piores, porque ok, eles gastam bastante aqui, mas ô coração e cara dura demais. Mas daí o problema é deles, então tá tudo bem. Os baianos continuam sorrindo, porque é de graça.
Quando a gente chega de São Paulo, ficamos desconfiadas do puxar papo dos baianos, da demasiada simpatia, do aprochego corporal.
Pouco a pouco, nos despimos da carapuça estrangeira (sim, porque paulista é gringo para eles, só que sem euros e dólar, então ainda pior), e nos sentimos mal por olhar torto ou responder com indiferença e desconfiança aos primeiros baianos que nos abordam.
E de novo, Boipeba em especial me surpreendeu mais uma vez. Reservei dessa vez uma pousada em Moreré (maravilhosa por sinal), e um rolê daqueles para chegar. Uma andada boa até o ponto e um quadriciclo até o fim de Boipeba. Para começar, a motorista do quadriciclo falava um japonês perfeito (e ela nem era japa), tendo morado 5 anos no Japão e dando um banho de fala na japa aqui.
Daí, todos os atendentes do hotel, dos restaurantes, da barraca, viram nossos melhores amigos, com tanta hospitalidade.
No último dia, um taxista que contratei para um tour express em Salvador me mostrou o Pelourinho, que está super agradável e restaurado, uma vista belíssima do Humaitá de brinde e toda a paciência do mundo para tirar as fotos de eu colocando as tais fitinhas do Bonfim. E me apresentou o melhor acarajé que já comi, do lado do aeroporto.
Lembro que no início de minhas pernadas pela Bahia, eu e minha xuventude intolerante, eu me irritava porque o pedido demorava demais, as atendentes riam do próprio erro delas, e os erros acontecem com frequência. Daquele tal molejo que o calor da Bahia provoca nas pessoas. Mas a força de Iemanjá é forte: no final dá tudo certo.
A gente tem que entender que a Bahia tem um outro tempo, um outro jeito. E que eles estão a muitos anos luz de sabedoria de nós, paulistanos, e ainda, assim, com um sorriso no rosto e uma paciência enorme com nossa armadura , nos dizem: “arre, relaxa. Tu tá na Bahia”.
Minha amiga chegou em Salvador depois de um estresse enorme com um Uber maníaco em São Paulo. No mercado modelo, um tio veio até ela e a benzeu, com a tal fitinha do bonfim e um colar de pimenta. Se era para angariar uns trocados? Talvez. Eles precisam viver, não é? Mas o fato é que aquela fitinha deu uma tal sorte para ela, que todas as zicas e mal olhado alheios não conseguiram derrubar nossa viagem.
Uma rolinha bateu no nosso vidro do quarto de hotel, mas se recuperou e logo voou. Choveu canivetes de manhã e depois o tempo abriu num dia de esplendor. Isso fora vários casos que se eu contar (quase um fogo no parquinho, quase um tornozelo torcido, quase várias coisas, mas no final tudo certo), ninguém acredita. Eita fitinha abençoada!!
Bahia, você tem meu coração para sempre. Teu povo, teu astral, tua luz. Que eu possa voltar muitas e muitas vezes.