Não sou expert em relacionamentos e por isso evito de falar muito sobre no Blog, mas não pude evitar o assunto depois de um final de semana regado a confissões e desabafos de pessoas queridas sobre o tema.

Eis a pergunta de um milhão de dólares ou euros:  Quando sabemos que estamos numa relação abusiva e quando é hora de terminar a relação?”.

Não vou aqui culpar nenhuma das partes, nem mesmo o homem,  porque mesmo sendo um blog dirigido às mulheres de quarenta anos, uma relação se faz com 2 pessoas e tenho noção que sim, no mínimo cada parte leva 50% da culpa.

A história de uma conhecida minha,  relevando tempo e exageros, é quase a mesma que a minha, que de outra amiga minha.

Nos primeiros 8 meses, foi um relacionamento maravilhoso. Uma urgência de ambas as partes de se conectar, de querer fazer bem ao outro.

Os programas eram maravilhosos, mesmo os furados se tornavam experiências agradáveis porque um queria fazer bem ao outro. Queríamos nos impressionar, nos amar, nos sentir especiais, demos o nosso melhor, realmente.

Os nossos amigos sempre eram pessoas bacanas, legais de se conhecer, a família era calorosa, e tínhamos o pensamento que : “descobrimos o nosso lugar no mundo, finalmente. E de repente essa pessoa pode ser o THE ONE”.

Nossos amigos viam o brilho nos nossos olhos, como você estava feliz, como o companheiro seu era carinhoso e veramente apaixonado por ti.

Era a junção perfeita do universo: ele amava você, você amava ele, seus amigos e familiares torciam por este relacionamento.

E foi maravilhoso mesmo. Foi verdadeiro. Por 3, 6, 8 meses. Em alguns relacionamentos, até anos.

E daí, um dia , isso não está mais legal.

Começam a se acumular briguinhas bestas. Brigas sérias. Brigas homéricas. Uma discussão mal terminada vira o estopim de outra. O rancor de um assunto vem a tona em outro.  Vocês viram um histórico de lamentações e mágoas.

Não é que é sempre assim. Mas se torna constante. O relacionamento ficou pesado.

Daí cada um começa a ligar o botão do foda-se. Começam a fazer programas cada um por si, no início talvez nem de interesses amorosos alheios. Isso seria talvez bom para a relação e um respiro para os 2, mas não. Cada um começa a cobrar o outro, querer dar o troco, e principalmente, postar uma indireta nas redes sociais (por isso que digo que rede social pode ser um instrumento do capeta). Um castigo por o outro tentar uma diversão , nem que inofensiva, fora do casal. A gente já viu infelizmente inúmeras frases de “valorize-se, deixe o outro ir quando não te ama” estampada no feed, nos stories.

Pronto.  Os amigos, os familiares já sabem que não está tudo bem.

E ai começa a rodada de lamúrias para os conhecidos reclamando da outra parte. Haja orelhão. Só história negativa, seja ela verdadeira ou aumentada, de acordo com a raiva da pessoa.

E tudo na outra pessoa lhe começa a parecer negativo. Aquela amiga ou amigo  , seja dele  ou dela é invejoso, mentiroso, se acha o melhor, é péssima influência. A família do outro agora lhe parece disfuncional, esquisita, de desconfiar .

E aquela pessoa que por um dia você se apaixonou, lhe parece agora uma pessoa com muitos defeitos, muitas coisas irritantes. E  você se pergunta inúmeras vezes o que está te prendendo a ela.

Vocês terminam. Vocês voltam. Vocês terminam. Vocês voltam.

Lendo isso, parece um conto de masoquismo.

Porque isso?

Porque os primeiros meses foram verdadeiramente maravilhosos. Tem que saber o que aconteceu. Ou o que eu fiz de errado. Eu fui tão feliz que não sei voltar a vida que eu tinha antes, sem essa pessoa.

Você passa horas reclamando do que essa pessoa te fez, para no final você mesmo se convencer que está exagerando, que é a raiva, que você não é uma pessoa fácil. E no nosso caso, que com 40 e tantos anos, não vem uma pessoa dessas todo dia na sua vida (bem, nem aos 20, nem aos 30, certo?).

Você diz para você mesmo que tem que tentar, não é possível que essa pessoa tenha te enganado fingindo ser outra pessoa durante todos estes meses. Você se espelha em casais que estão juntos há muito tempo e estão felizes, e imagina que eles passaram pelas mesmas coisas.

Será?

Quando vocês voltam, nunca é bom como da primeira vez. E daí vem a certeza que não é. Não é uma questão de amadurecimento, de amor ao outro. O amor deu lugar ao controle, à mágoa. A questão de morte para você passa a ver o outro não ser feliz se não for com você.

Quando o relacionamento começa a ser abusivo de forma perigosa? A primeira pergunta de um milhão. Quando você sabe que é uma relação onde você pode se tornar uma vítima? Você se lembra do homem que foi morto pela amante, pela moça linda do sul que foi arremessada para fora da sacada por seu companheiro.

Todos nós ficamos abusivos com o companheiro, nem que de forma leve. Existe mesmo no inicio da relação aquele ciúme saudável, de mostrar ao outro que sente a falta dele.

Quando a coisa começa a ficar pesada, é quando vocês não estão felizes um com o outro, quando a maior parte da relação de vocês se resume a devoluções de indiretas e maldades, e ainda assim culpam por estarem saindo com seus amigos, seus familiares.

Quando você se sente um bosta, uma merda, uma pessoa terrível.

Está na hora de parar. Vocês não serão o casal feliz que são seus amigos, ou seus pais.

E daí digo que não existem vítimas 100% nesta história. Tome as rédeas da sua vida: você é responsável pelo que as pessoas fazem com você. Com exceções de ordem econômica, a principal culpada (ou culpado) é você.

Em raros casos (assim penso eu) a outra parte é terrível a ponto de te machucar fisicamente ou psicologicamente, e acabar em morte. Mas não precisa chegar nesse ponto. Existem também a outra parte maligna. Aquela que já começou a ter outros relacionamentos, mas sabendo de sua fragilidade, te manipula, te manda mensagens , te faz pensar que você está a traindo simplesmente saindo .  Afinal, é sempre bom ter um backup não é mesmo?

Conheço várias pessoas que já estão nessa fase, já sabem que a outra parte está saindo com outras pessoas, e ainda insistem em responder mensagens, em receber indiretas e se explicar. Homens e mulheres. Se for isso o relacionamento, melhor não ser.

Porque você se relaciona com uma pessoa para ser melhor. Para se sentir melhor, para ter dias bacanas, com momentos incríveis. Talvez nem tudo serão flores,mas  na maior parte do tempo, tem que ser legal, gostoso. Se não for, não é para ser.

E daí uma coisa que fiz, e não arrependo. E recomendo fazer. Encerre o contato mesmo. Tire o de suas redes sociais, não se faça de inteligente e empoderada que quer ver o outro feliz já. Tem muita gente que mantem contato com o ex recente para mostrar que é amadurecida.

Mentira. A gente não quer ver o outro feliz. Se ele estiver numa balada, com amigos, sorrindo, é a morte. Se estiver com um caso novo então, vamos enlouquecer. Nunca foi verdadeiro? Sempre me enganou ou me traiu?

Acabou, encerre o contato. Não tenha mais visão dele ou dela, peça para seus amigos não ficarem comentando, lembrando ou fofocando. Eu honestamente em minhas futuras relações vou tentar ficar quieta,porque o que eu tenho de amiga sem noção (ou maldosa mesmo) que veio fofocar do outro para mim sem ter sido indagada não foi pouco. Digo que amiga ou amigo que vem dizer que o outro já tá de caso novo então, sem eu ter perguntado,  não merece perdão.

Depois de alguns meses, e talvez anos, você não vai se ferir mais. Sua vida já tomou rumo, e se quiser ser amiga do ex, ok, vai ser . Mas preserve-se, faça as coisas direito para que o final seja o final mesmo.

A vida é muito boa e merece ser vivida e não lamentada. E você é um milagre, lembre-se disso. Beijo no coração.