
Pois é, gente, eu sempre fui a diferentona na minha família.
– Nunca apresentei um pretendente para meus pais em meus 40 anos. Nenhunzinho. Juro. Minha família é meio fofoqueira e pega no pé, então só quero apresentar alguém quando estiver para casar mesmo. Fora isso, muita encheção de saco.
– Escapei de vários eventos familiares. Não porque queria escapar, mas sempre tive uma viagem mais legal para fazer no dia dos pais, e no Natal as viagens internacionais são bem mais baratas se compradas antes do dia 25.
– Jamais comemorei aniversário de 30 anos, de 40 anos e de 15 anos juntando toda a prole. Na verdade, na década de 80 e 90 era modinha fazer megafesta da menina de 15 anos, e em vez disso pedi para viajar.
Pois é. Se dependesse de pessoas como eu, não haveria batizados, festa de 1 ano do pimpolho, casamento, festa de 60 anos, de 40 anos. O meu irmão que é solteiro pagou pra toda famíia um almoço, porque segundo a tradição japonesa, quando se faz 40 anos paga-se para toda a família, e ao completar 60 anos, a família paga. Me perguntem se me lembrei dessa regra pra mim.
E todos os meus primos estão casados, em primeiro ou segundo ou até terceiro casamento, com filhos. A tradicional festa de Natal da família agora é um mundaréu de crianças e bebês.
E como manda a tradição japa, cada um traz um prato para o banquete natalino. Alguns já se encheram o saco de cozinhar e como minha mãe, trazem de uma boa rotisseria. Outras, como eu, trazem brigadeiro e bolo, que é a única coisa que até hoje sei fazer com destreza.
Então sempre fui considerada o elemento secundário da família, aquela que ainda não agregou. Que se morrer, vai ficar por aí mesmo, sem continuidade. Nunca achei que fosse percebida pelas minhas tias, apesar delas sempre muito carinhosas. Ok, durmo tranquila com isso. Não me afeta a ponto de eu mudar.
Mas uma coisa mudou por aí: quando escrevi a crônica e certo desabafo: “Honestidade e o fim de um ciclo” e postei no Facebook. Daí recebi uma enxurrada de palavras de boa vontade e até ligações de pessoas. Uma delas era da minha tia, que avisou minha mãe que não sabia dos meus dotes de escritora, e que estava muito orgulhosa de mim.
Outra, através de minha prima, me disse que sempre achou que eu era diferente. Mas diferente do bem. Que eu não precisava de rotulo e de filho para me sobressair do mundo. Que estava orgulhosa de mim, blablabla, mas uma frase me marcou: “você vive bem a sua vida”.
Me marcou essa, tia.
Você vê que no final, o que as pessoas realmente se importam é se você é uma pessoa boa, produtiva, feliz, e agregadora.
E que está muito longe de ser rotulada “a ovelha negra da família”. Anos luz disso.
Porque eu digo, gente. A decisão de não ter filhos é tão ou mais difícil da decisão de ter filhos.
A Decisão de viver sozinha é tão ou mais difícil do que a decisão de se juntar, casar.
Eu falo em voz alta a minha decisão e minhas convicções feministas.
Mas tem dia que a gente se sente meio borocochó, medrosa, baixa auto estima, etc.
“Será que fizemos a escolha certa?” Vou morrer sozinha, num velório vazio, sem ninguém para chorar sobre meu caixão? Quando cortar o meu dedo, vou ensanguentada enfrentar sozinha o pronto socorro, quando meus pais se forem? Quem vai se lembrar de mim?
São pensamentos meio mesquinhos, narcisistas, mas somos assim, somos seres humanos.
E daí vem uma palavra de amor dessa sua tia, que nem é chegada tanto em você, e o caminho se ilumina. A vida é boa para a gente. E você vê que é mais percebida do que imagina, que não é tão invisível como acha que é, e que tem pessoas que te desprezam, e há tantas outras que te admiram.
E eu prometo que no próximo Natal (se não estiver viajando), vou levar um prato de verdade para o banquete.