
Tem algumas séries de TV que tenho como “Confort Entertainment”. Já devo ter assistido um milhão de vezes, sei decor, nem sempre é um material aclamado de crítica. Mas sempre que quero assistir algo gostoso, para me deixar bem, estão elas lá. Uma delas sem dúvida é Sex and the City. Uma série ambientada em Nova York no início dos anos 2000, com a simpática da Sarah Jessica Parker como protagonista. Figurinos de Patricia Field, cupcakes da Magnolia BAkery, tomadas no Central Park, restaurantes top.
Sei os episódios decor e salteado, desde o primeiro episódio onde Big diz a famosa citação “Absolutefuckin” até os últimos (que devo dizer, são os que menos gosto) . Enquanto eu estou de pijama e cabelo sujo há dias, adoro assistir as saídas das garotas em restaurantes e bares descolados com seus figurinos mara.
Agora deram de fazer novos episódios intitulados de “And Just like that” com as protagonistas já cinquentonas.
Muita crítica já ouvi da novidade: que atriz envelheceu, fez botox, que a Kim Cattrall brigou e não voltou para a série, a morte de um personagem principal, enfim.
Confesso que ainda não assisti os episódios. Porém já fui fuçar na Internet e vi como o personagem de Kim, a Samantha, ou melhor sua ausência foi contada na série. Até porque fazia sentido o quarteto completo (Carrie, a jornalista , Miranda, a workaholic geniosa, Charlotte, a romântica sonhadora, e Samantha, a mais ousada e segura.
Devo dizer que gostei muito e achei muito realista como os escritores mencionaram a ausência de Samantha: num desentendimento com Carrie (que dispensou seus serviços de assessoria de imprensa) ela se mandou para outro país e parou de falar com todas.
Talvez os fãs mais fervorosos de Samantha achem que foi uma provocação e indireta na atriz que a interpreta, mas independente do contexto dos bastidores, foi uma solução bastante real, e devo dizer dos meus 45 anos atuais, que acontece com frequência em nossa vida.
É triste. É mais triste e fúnebre do que acabar um relacionamento amoroso, porque a gente sempre acha que os bofes ou namoricos vão, mas as amizades ficam.
Nem sempre é assim.
Tive amigas do peito, que eram irmãs para mim, no ginásio, no colegial (para as cringes , millenials e Z, final do ensino médio, ok?), tive amigas de faculdade, pós faculdade, aos 30 anos. Sabe aquela amizade forte, que a gente considera mais que família , e tem certeza que iremos envelhecer juntas?
Num dia qualquer, depois de um desentendimento aqui, talvez uma ignorada na dor de um fim deum relacionamento da amiga, uma indireta nas redes sociais ali, uma fofoca alheia de amigos (nem tão amigos), a gente encerra o contato.
Tá, devo dizer que quando somos crianças, somos mais autênticas, então a briga é homérica e teatral. Seguem-se troca de farpas, xingos, intrigas e por fim, o fim completo ou a redenção.
Mas quando crescemos, não brigamos. Nos afastamos.
As mensagens param, nos tiramos de nosso contato das redes sociais, param os encontros, os almoços, as viagens, os telefonemas e mensagens de apoio, e por fim, as lembranças.
Vez ou outra a gente lembra da pessoa, e se pergunta de que vida nós fomos melhores amigas. Não por raiva, apenas porque acabamos esquecendo da pessoa mesmo.
Não houve catarse. Não houve xingos (bem, não na cara). Talvez uma gota d´agua silenciosa, que a outra parte nem sabe que causou. Talvez ressentimentos de vários poréns anteriores de ambas as partes. E daí um combinado silencioso: eu não mando mais mensagens e você também não me manda mais. Ponto final.
Mas a tristeza, o vazio que isso dá na gente, é forte, viu? Olhando a descrição de um fim de amizade adulta como acima, e como é na maioria das vezes, parece algo que estamos pouco se lixando. Não. São dias, horas, minhocando sobre a decisão e de como fazer, e se fazer. E depois fica um buraco.
E conforme vamos crescendo e envelhecendo vamos nos acostumando com isso. Conhecemos amigos em viagens, fazemos os melhores programas, temos uma convivência ótima, rimos muito, fazemos confidências, e quando a distância vem, as mensagem ficam mais espaçadas, mais genéricas. E daí o fim. Isso com colegas de cursos, e também as amizades de média e longa data.
Como Carrie e Samantha, houve já desentendimento entre elas. Um estopim foi o afastamento de uma, e de repente outras pessoas surgem na sua vida e ela vira uma memória distante.
Me conforta que há uma cena no enterro de um personagem, e Samantha reaparece (não fisicamente), mas dando lembranças e um carinho e sim, não nos esquecemos jamais e mesmo não sabendo, “cuidamos” da pessoa de longe.
É isso aí. Amizades tem um sabor agridoce quando acabam, mas valem a pena. E como. É uma troca de espíritos, de energia mútua onde o interesse não é financeiro, não é material, não é sexual mas porque eu quero uma troca com aquela pessoa. Talvez acabe. Mas os momentos e até o carinho fica.