
Como já disse em outro post anterior, estou passando por um período difícil em minha vida. A doença de um ente querido e o mais próximo de você, é algo que nos tira o chão. Até minha vontade de comer tirou. Emagreci 3 quilos, para o bem e para o mal.
Após 2 meses convivendo com a paúra da incerteza e o diagnóstico meio sombrio, estava esgotada. Finais de semana em casa, dias da semana no hospital em acompanhamento. Agora, eu entendo mais do que nunca a expressão de viver um dia por vez. Um dia uma comemoração de uma melhora, em outro a derrocada brusca.
E a cidade de São Paulo não estava ajudando: trânsito, poluição, e o pior: notícias de assalto pipocando a qualquer hora do dia, em bairros até antes considerados seguros como Brooklin, Campo Belo, Itaim.
Já sofri um assalto violento em 2018 a poucos metros de minha casa, então já sofro pelos assaltos alheios.
Eu amo minha casinha, meus lençóis, e principalmente meu banheiro como toda menina nojetinha e que sempre teve o seu banheiro só para si. Contudo, eu tava mal. Dormindo mal (porque o barulho das construções de futuros prédios vai até a madrugada), comendo mal (sem vontade de cozinhar), vivendo mal.
Veio uma luz e uma janela de conforto entre a ida de meu pai para a casa para continuar o tratamento quimioterápico e um livramento do hospital de enfermeiras desencontradas e doenças iminentes: eu precisava passar um final de semana longe de casa.
Minha amiga decidiu ir comigo, mas teria ido sozinha de qualquer jeito.
3 horas de estrada, chegamos na pousadinha que já conheço no Litoral Norte de São Paulo. Finally home. Beach Home.
Eu antes jamais voltava no mesmo lugar de férias, porque queria conhecer destinos diferentes sempre. Hoje ainda quero, mas reconheço que é uma delícia voltar para o mesmo lugar, a mesma praia, a mesma pousada e ir nos mesmos restaurantes.
Deixamos um tempo chuvoso e incerto em São Paulo e fomos abençoadas com um tempo firme e céu azul na praia.
Pé na areia, andar na praia, barulhinho do mar, por do sol dourando a areia e brilhando a água. Peixinhos kamikazes quase a encalhar nadando graciosamente na beira da areia. Batida deliciosa de coco com pinga das mais baratas como só as barraquinhas de praia conseguem fazer (e não dão ressaca!).
Consegui tirar todos meus pensamentos negativos e me deliciar com aqueles momentos só para mim.
Todas as memórias e lembranças da doença de meu pai, do emagrecimento de minha mãe de nervoso, dos dias incertos e dias piores nebulosos no hospital nestes dias se esvaíram. Pelo menos naquele sábado e domingo.
Foram dias de aproveitar a brisa do mar, a textura da areia fininha, o frescor das ondas, comer uns frutos do mar gostosos, ficar horas numa cadeira de praia vendo o movimento das pessoas.
Aos quarenta anos, aprendi que o ócio, além de ser criativo, ainda dá oxigênio para termos mais disposição para a vida.
Neste fim de semana me realizei que , se não temos como evitar as dificuldades da vida, ainda conseguimos enfrenta-las com saúde e disposição, e que ainda somos gratos por respirar e por poder aproveitar da vida.
E que sim, você pode treinar sua mente para poder aproveitar melhor os momentos. Eu já fui uma pessoa nos meus 20 e poucos anos de minhocar demais, de me cobrar e de me culpar por aproveitar e esquecer os momentos difíceis enquanto outros estavam sofrendo.
Mas que eu sofrer hoje não ameniza o sofrimento do outro. Então, estando bem, estamos melhores para ajudar os nossos entes queridos que estão passando por apertos.
Nesses tempos de pandemia, vi muita gente partir do nada (inclusive conhecidos que decidiram acabar com sua vida – falarei em outro blog, pois foi outro baque forte) e perder pessoas muito próximas.
Na segunda feira, voltei leve, feliz e plena. A água do mar e a brisa marinha filtraram todos meus pensamentos negativos e me deixaram mais plena e presente para ajudar meus pais. Durante a semana, fui muito mais produtiva e considero que consegui graças à este final de semana com respiro, fazer decisões que nos ajudaram muito daqui para frente.
Precisamos de ar. Precisamos de mudanças. Precisamos de conforto , carinho e porque não, um respiro em nossas vidas. Sempre que puderem, dêem essa escapada. Merecemos.