Creio que a pandemia não acabou. Mas estamos em vias de começar uma endemia, e não mais pandemia.

Sofremos muito em 2020 e 2021.

Com o alento da vacina, as coisas começam a voltar ao quase normal.

Mês passado, fiz algo que considerava impensável: fechei um mini cruzeiro pelo Brasil . Impensável porque estava com raiva da MSC: minha mãe tinha fechado um cruzeiro em 2021 com saída em janeiro de 2022 e como cancelaram por conta das restrições da Anvisa, eles disseram que só vão nos reembolsar em 2023.

Impensável porque nem eu sou a maior fã de cruzeiro (minha mãe é).

Mas passei um janeiro e fevereiro terrível, entre idas e vindas do meu pai ao hospital, com diagnósticos errados e finalmente quando veio, o mais chato.

Quando o pessoal deu sinal verde para os cruzeiros poderem fazer seus 2 meses de costa brasileira, eu recebi uma oportunidade incrível. 4 noites, passando em Ilha Grande e Buzios, com varanda, a 1800 por pessoa.

Considerando que um cruzeiro você tem pensão completa excetuando as bebidas, e paradas em destinos bacanas , fica um custo beneficio top. Fiz uma conta rápida: gastaria uns 300 ida e volta Buzios, mais uns 500 ida e volta Ilha Grande, 300 reais por dia com alimentação vezes 4 noites, dá o valor do cruzeiro.

Consultei minha mãe, e ela me encorajou a fechar e ir no primeiro navio que zarpasse.

Aqui vai um relato de quem já viajou bastante de cruzeiro fora da pandemia e minhas considerações.

PONTOS RUINS

– o primeiro é péssimo: o embarque. Geralmente o navio zarpa no final da tarde e conseguimos sempre entrar no cruzeiro no período do almoço, o suficiente para aproveitar o dia. Comer no buffet, andar o navio inteiro, tirar umas fotos, já aproveitar a piscina, desarrumar a mala.

Nesta sexta, eu passei das 12:00 até as 18:00 hs mofando numa cadeira dura do Cais de Santos. O motivo, obscuro, é que demoraram para desembarcar os passageiros do cruzeiro anterior, e o embarque dos novos só começou a partir das 14 hs. Então só conseguimos embarcar às 18 hs. Da-lhe pizza oleosa dos quiosques do porto (que me deu um belo piriri depois) e ansiedade.

Por isso, em tempos de ainda pandemia, considere perder o primeiro dia do navio tomando chá de cadeira em um cais xexelento, pagando do próprio bolso as comidas.

Conseguimos entrar na cabine só as 19 hs. Tempo só para ter que assistir obrigatoriamente do quarto o treinamento de segurança, tomar um banho de gato e jantar e show.

– A comida também foi outra baixa: o MSC, admito, nunca foi uma cia de cruzeiros conhecida por sua excelência culinária. Já fui em Cruzeiros da Norwegian e Royal Caribbean e devo dizer que a MSC é bem abaixo. Mas dessa vez fiquei realmente decepcionada: poucas opções no restaurante a la carte, e o buffet de jantar então dava dó. Comidas com pouquíssimo gosto, e uma qualidade claramente inferior a de cruzeiros passados. Lembro que comia no café da manhã ovos pochés deliciosos e waffles belgas legítimos, o que não aconteceu dessa vez.

– Opções de entretenimento: como estamos ainda em pandemia, acabou aquela energia do navio de brincadeiras e gincanas a beira da piscina e de noite (os concursos de barrigada e de miss do navio eram imperdíveis): não poder ter toque, abraço realmente é fogo. Faz uma diferença enorme.

– Funcionários – antes muito simpáticos, agora mesmo os asiáticos estavam com aparência de cansados e desestimulados. No primeiro dia, estávamos só com toalhas de praia, e quando ligamos para a recepção para reclamar, alguém que claramente não entedia o português se limitou a dizer que por causa da pandemia, só eram aquelas mesmo. Se estava assim em um cruzeiro vazio, imagine num cheio.

Depois de um tempo, falando com outros hospedes, era um erro de nossa cabine mesmo: disponibilizaram toalhas de banheiro branca, mas só depois que reclamamos.

– Incertezas – Ilha grande, que estava programado para o primeiro dia, acabou sendo cancelado. Por motivos incertos. Alguns falavam que era má tempo (quando tínhamos um lindo ceu azul) outros por implicações da Anvisa, outros por problemas do porto. Enfim, no final conseguimos fazer o destino no último dia que era destinado para navegação. Mas em tempos de ainda pandemia , prepare-se para o incerto. Talvez você não consiga desembarcar naquele porto que tanto queria e por isso que reservou essa data em especial. E vai ter que engolir.

A FAVOR

 – Limpeza. Devido ao navio estar bem abaixo de sua capacidade, creio que estávamos com apenas 1/3 de ocupação, o buffet pela primeira vez estava limpinho e organizado. Não posso reclamar também da limpeza geral do navio, da conservação (alias, nesse quesito não há melhor que o MSC, as instalações são ótimas mesmo).

– Atendimento – tivemos 2 problemas mais sérios. Um foi que nosso banheiro alagava horrores por conta de uma vedação errada do box. Tentaram inúmeras vezes consertar, meio desastrados, nos ofereceram outra cabine, e no final nos disponibilizaram uma garrafa de espumante como pedido de desculpas pelo inconveniente. Estão perdoados.

Também quando a parada de ilha grande foi cancelada, fiquei preocupada porque queria avisar minha família, mas não queria pagar o absurdo de internet que eles cobram. Me fizeram uma ligação gratuito para minha família (mas que não funcionou no final porque não deu sinal). Mas tentaram, é o importante.

– Navio vazio talvez seja menos animado, mas pelo menos consegue-se fazer mais coisas.  A fila para descer para o barquinho que levava até as paradas estava tranquila, assim como o desembarque foi super de boa. Navio vazio significa que os banheiros estarão sempre em ordem, há lugar de sobra para sentar no teatro e nos lugares, e o buffet estará sempre limpinho.

ORGANIZAÇÃO E PROTOCOLO DE SEGURANÇA

Isso tenho que dar os parabéns para a MSC. Entrei no cruzeiro achando que já ia pegar COVID. Mas os caras estão se esforçando real para reverter o quadro.

Todo mundo tem que apresentar carteirinha de vacinação e teste de antígeno feito em 24 horas (e ao contrario de alguns eventos onde eles pedem mas não olham, este passou por umas 3 revistas).

Lá dentro, todo mundo é testado em algum dia. So pode desembarcar no destino de onde veio se apresentou teste feito no navio (pago por eles) . Perdemos uma meia horinha mas tudo de boa. Se é para a segurança de todos, não é tempo perdido mesmo.

Nos lugares fechados a maioria de máscara, exceto nos bares e nas discos. Lá realmente a transmissão podia ocorrer. Mas todas as festas praticamente foram ao ar livre, e no buffet toda hora tínhamos que nos identificar com nosso cartão e medir temperatura.

Nos corredores das cabines, vimos algumas poucas que provavelmente tinha alguém quarentemado. Por isso eles fazem uma busca da pessoa positivada: onde e com quem ela esteve.

Eu me senti muito segura mesmo, fiz o teste por minha conta na volta, deu negativo e me senti mais segura lá do que em um destino de praia com muita movimentação e nenhum controle.

MEU PARECER FINAL: VALE A PENA VIAJAR DE NAVIO EM PANDEMIA?

Vamos lá: no final, apesar de um começo conturbado com um dia perdido e troca de cronogramas, além de atividades que decaíram claramente como a oferta de comidas e a animação a bordo, no final fizemos muitas coisas legais. Aproveitamos um dia em Buzios, fizemos um passeio incrível em Ilha Grande, comemos algumas coisas boas (o pain au chocolate e a pizza continuam ótimos) , jogamos no cassino, conseguimos boas promoções nas lojinhas de Duty Free (bebidas e chocolates), tomamos banho de mar, de piscina e hidromassagem (que são ótimas), fomos nas festas (a do branco foi ótima e a parte musical deles é ótima demais) e a cama das cabines do MSC tem algo que te envolve quando você deita nela. Lençois fresquinhos, travesseiros fofos.

Conversei com alguns hospedes e quem foi pela primeira vez gostou muito. Até da comida. Já os marinheiros de segundas e terceiras viagens (no meu caso é a oitava) sentimos um pouco a diferença.

Eu digo que se você conseguir uma promoção e conseguir ir com o espirito de tudo é lucro (não se ater a uma determinada parada, ou ao padrão antigo da MSC), pode dar certo.

Senão, espere até a pandemia passar de vez e daí embarque num cruzeiro com mais certeza do embarque, das paradas, de comida e padrão reposto e de abraços finalmente da equipe de animação.