
Esse é um texto atípico aqui no Blog e para quem me conhece há anos. Dos meus 40 e poucos anos, já falei bastante sobre amizades. Ultimamente, sobre família. Mas sobre o amor, sempre fiz textos com uma boa pontada de ironia e humor (“Cuidado com os Boys Magia Negra”), não porque eu não quisesse abrir o meu coração aqui, mas é porque de verdade, nunca parei para refletir ou pensar sobre o amor.
Vamos deixar de lado pelo menos nesse texto o amor entre amigos, entre famílias, o fraternal.
É sobre o amor de dois indivíduos que resolveram ficar juntos, fazer um bom amor, e ter uma vida em comum.
De verdade. Sempre caguei para este amor. Sempre que tinha um bofe mais pegajoso, eu já me afastava ou já arranjava defeitos propositais para acreditar que não valia a pena.
E como todo dedo podre, eu ia atrás justamente dos boys magia negra, aqueles que realmente eram só para diversão, porque se fosse para algo mais, ia dar merda na certa.
Mas a vida prega peças na gente. E para a galera dos enta como eu, já passou por muitas peças e minisséries, até novelas.
Nos últimos 10 anos, passei por muitos boys de uma noite só ( no meu caso, nem tanto, sou panda, a comida importa mais). Alguns boys de 3 meses. Um ou outro que durou até um ano.
Passei por afastamento de amizades que julguei que eram para sempre.
Passei por apertos de saúde, alguns sustos, assaltos violentos.
E no último mês perdi meu querido pai. Eu ainda não tenho forças para escrever sobre essa perda, mas certamente o farei em breve, pois foi um dos momentos mais tristes (e mais belos, devo dizer) de minha trajetória até hoje.
Além disso, passamos por uma pandemia de 2 anos, e nossa geração ficará marcada nos livros e internet de história geral, coisa que nem nossos bisavós passaram.
Nos últimos e derradeiros momentos de papai, ele se preocupava comigo para que eu arranjasse alguém como ele arranjou minha mãe. E no leito final, é tudo verdade absoluta, não tem mentiras, encenações e meias palavras. E a coisa mais linda do mundo foi quando ela se ausentou do hospital por poucas horas para tomar um banho decente em casa e voltar, ele chamou por ela, pois estava já com saudades dela, logo ele, o durão. Ah, essa cena me enche o coração e me enche os olhos de lágrimas toda vez que eu me recordo.
Abrindo meu coração total para vocês aqui: eu sinto hoje falta de um amor para chamar de meu. Não precisa ser o amor de foto de corazon do Instagram.
Um amor que você pode contar no final do dia, de cooperação, de sintonia, de troca, de compartilhamento.
Eu sentia essa falta em momentos muito difíceis da vida, como depois de ter sofrido um assalto muito violento, a notícia de talvez um tumor maligno que não se concretizou, a doença do meu pai. Eu amo meus amigos, mas o apoio deles acabou sendo muito superficial . Uma mensagem de whatsapp aqui, uma ligação ali. Nada que de verdade pudesse acalentar minha raiva, tristeza e frustração. No final, acaba sendo mais de apoio e curiosidade alheia.
Se nos momentos difíceis a gente sente falta, imagine nos momentos de maior alegria. Se já é bom compartilhar com amigos, imagine com a pessoa amada.
Sei que as relações hoje se tornaram um tanto superficiais, e conheço casais que mesmo aparentando perfeição no Instagram, não tem o amor que meus pais tiveram. Mas eu acredito.
Nos meus 20 e 30 e poucos anos, a aparência para mim era ponto inegociável para aceitar um bofe para chamar de meu. Às más línguas que podem achar que depois dos enta o nosso critério diminui e por isso a gente passa a aceitar boys nem tão magia, eu refuto e digo mais: a gente sim se torna mais seletiva. Mas a beleza fica em segundo lugar (não em último, porque afinal sou libriana), pois no final de tudo, como diz Marilyn Monroe, a beleza acaba.
Tem um episódio da série Sex and The City, na segunda temporada, que a personagem principal Carrie vivida por Sarah Jessica Parker fica sozinha em sua comemoração de aniversário. É um episódio triste, fora do tom da série. A amiga insiste que ela comemore seu niver. Ela pega uma mesa grande de restaurante. No final, todo mundo dá o cano. E ela se dá conta da falta que faz uma pessoa do seu lado, incondicionalmente. Quando vi esse episódio há uns 10 anos atrás, achei meio forçado, e demonstrava uma fraqueza da personagem. Que hoje, eu vejo com outros olhos e que em outras situações representou o que eu sentia. A solidão dos solteiros.
Não é a solidão que ficamos chorando pelos cantos, abandonados, esperando o telefone tocar. Mesmo quando estamos rodeados de pessoas e podemos ligar para várias pessoas que irão nos acudir, enxergamos a falta que alguém faz .
Nunca é tarde. Não agora. Não vou fugir do amor. Quer dizer, se ele vier, não é mesmo? Horrível dizer isso, mas não acredito que todo mundo consiga encontrar um amor da vida. Talvez uma cia, mas não amor. Não o amor que meus pais tiveram.
Não é mais um boy lindo. Se ele for, beleza, ou nem precisa.
O que importa? O bom mocismo da pessoa, a sua inteligência emocional, sua vontade de viver, o modo como trata as outras pessoas, o respeito ao próximo, o caráter, o caráter, o caráter.
Demorou 4 décadas e a perda de meu pai querido para eu entender, e antes tarde do que nunca. Busquemos sempre o amor. É ele que vale a pena.