Já dou spoiler logo de cara: amei Caraíva e acho que é um dos destinos mais bacanas do Brasil, principalmente para mulheres que viajam sozinhas. Mas não é para todas.

Estive em Caraíva em plena pandemia, em novembro de 2020. Como a maioria das pessoas faz, fiz um passeio de bate volta no mesmo dia saindo de Trancoso. Lugar que aliás não ganhou meu coração, apesar de ser bacana, como toda a Bahia.

Sabe aquele lugar que mesmo que você fique por algumas horas, sente algo de especial ? Eu senti. Passei algumas horinhas andando pelas ruas de areia, pela praia (que olhando pela primeira vez, e perto do rio e nem é tão bonita), pelo rio Caraíva, pelo comércio charmoso e um tanto inflacionado, e senti: aqui é um lugar para se voltar e ficar mais dias.

Pula para março de 2023. Após um 2022 muito triste com a perda inestimável de meu querido pai, e um afrouxamento da pandemia, resolvi passar alguns dias em Caraíva. Sozinha dessa vez. Animada por uma passagem baratinha de Black Friday , e uma pousada com preços não tão absurdos (hospedagem aliás em Caraíva não é nada barata), fechei 3 dias completos.

Voei de São Paulo até Porto Seguro, e como cheguei no final da tarde, já não tinha tempo hábil para chegar em Caraíva no mesmo dia, já que o percurso é longo (explicarei a seguir). Então pernoitei em Porto Seguro, numa pousadinha simples mas justa, e a poucos passos da Passarela do Alcool, repleta de barzinhos e casinhas charmosas.

No dia seguinte, devidamente descansada, fui atrás de um transfer até Caraíva. Cheguei até a balsa que leva até Arraial da Ajuda (tem de meia em meia hora para pedestre, já que você pode ir na balsa de pedestre e também de carros) e o percurso não leva mais do que 15 a 20 minutos. Chegando em Arraial, já fui abordada pelo Sombra, um dos vários moços que, com muita eficiência, junta grupos de viajantes solos e lota Vans e táxis para Caraíva, Trancoso e Praia do Espelho.

(ATENÇÃO: se você estiver viajando em Baixa temporada, que vai de março até outubro, esteja ciente que pode ficar horas esperando mais gente para formar um grupo de taxi. Ou se prepare para pagar um taxi 500 reais até la sozinha. Existem vans e ônibus até Caraíva, mas os horários fixos nesses meses são muito cedo , 6 ou 7 horas da manhã, ou muito tarde, 14 a 15 hs da tarde).

Eu esperei uns 30 minutos e conseguimos mais viajantes para rachar um taxi (120 por pessoa), que nos levou até Caraíva em duas horas e pouco (ônibus e vans podem levar até 3 a 4 horas dependendo das condições da estrada que não é lá essas coisas).

A Van nos deixa na margem do Rio, e é preciso pegar uma das muitas canoas disponíveis durante o dia inteiro (se não me engano é das 06 até as 06 da tarde), num trecho de 5 minutos e que custa 7 a 10 reais por pessoa, além da taxa opcional de preservação .

Eu fiquei feliz de vir com uma mochila apenas, pois nesse trajeto de avião, taxi, canoa e até a pousada seria um perrengue carregar uma malinha de rodas. Mais uma dica às mulheres viajantes sozinhas: quanto mais leve viajarem, melhor. Talvez tenham os jegues , as carroças, mas se você tiver uma mochila nas costas, não espera e não paga extra .

Quando cheguei finalmente em Caraíva, tive que andar uns bons 250 metros debaixo de um sol escaldante do meio dia e de areia fofa até minha pousada. Chegando lá, na Pousada Corais do Sul, fui gentilmente recebida pelo Paulo, proprietário da pousada, que já me disponibilizou o quarto e me deu dicas do local. Aliás em Caraíva, quase toda pousada você será recebida pelo dono, com muito carinho e cuidado. A pousada é simples, mas limpa e tem todos os requisitos de conforto: roupa de cama branca, ar condicionado potente, chuveiro ok, café da manhã ótimo e wifi que funciona, aliás item indispensável já que em Caraíva o sinal de internet é quase nulo, apenas para quem tem operadora Vivo. O meu que é Claro, ficou a ver navios.

Deixei minhas malas no quarto, e em menos de 5 minutos já estava na praia. Mais longe do rio, a praia é mais bonita, a água é quentinha, e dá para entrar no mar sem se afogar. Com muita sombra de árvore, estendi minha canga, e fiquei horas ali, curtindo a brisa marinha, o barulho das ondas, e refletindo muito sobre minha vida.

Aliás, descobri depois de uma longa caminhada que Caraíva tem para todos os gostos e bolsos: tem day use em pousada bacana pela bagatela de 300 reais por pessoa, tem sombra de árvore de graça, tem cadeira de praia (e de rio) que cobra, tem quem não cobra, tem restaurante que serve PF digno a 30 reais, tem restaurante com prato a 150 reais mas que não deixa nada a dever a SP.

Eu só não vou deixar aqui dicas, porque honestamente Caraíva tem tantas opções para todos os gostos e bolsos, que é só se jogar: nas ruelas você vai encontrar o que quer. E digo: não tive piriri (algo bem comum que tenho no Nordeste) e só tive boas experiências.

Eu também não fiz muitas refeições, porque admito que arrasava no Café da manhã mara da pousada, e como vou dizer a seguir, as amizades que fiz pelo caminho me puxaram para a cachaça mais do que para as refeições gourmet.

Se eu não tivesse conhecido ninguém, tenho certeza que Caraíva ainda seria maravilhosa e minha viagem também: teria ficado horas na sombra gratuita da árvore, entrando no mar quentinho, na água refrescante do Rio Caraíva e vendo um por do sol incrível, comendo pastel de arraia (que nem achei grandes coisas, mas vá lá, vale a experiência) e moquecas, fazendo passeios, e algo que nunca vou esquecer, as meditações sozinha à beira da praia, à noite, apenas com a lua cheia iluminando o mar. Chorei, ri, refleti muito.

Mas Caraíva me entregou  ainda mais do que prometeu, e no primeiro passeio que fiz, tive uma turma incrível que me acompanhou nos dias seguintes. Turma que aliás, só cresceu, pois a cada dia conhecia alguém bacana e de alma boa na praia, no bar, no restaurante. E olha que não sou a mais simpática e comunicativa das criaturas. Pelo menos não nessa fase que estou, ainda de luto.

Sobre os passeios, fiz o de barco até Espelho e Satu (bacana, mas honestamente caro pelo pouco trajeto, me custou 200 reais tabelado por 20 min de barco). A praia do espelho é bela e tem infraestrutura de praia, mas JAMAIS acredite nos vendedores de passeios que dizem que tem 99% de chance de avistar tartarugas no caminho (eu já fui 2 vezes e nhecas de ver  as bichinhas). E o tal espelho também nunca vi, e olha que fui em meses diversos. Mas os beach clubs são bonitos, a praia é bonita de qualquer jeito. E Satu é uma praia que está na moda, e não achei nada de mais, mas a maré estava cheia aquele dia. Deu para ir no mirante e tirar belas fotos e deu para tomar um banho de rio quente, fervendo.

Também fiz o passeio de jipe (se for em 4 pessoas, 110 por pessoa) até a ponta de Corumbau. Adorei. Mas cuidado ao fechar o passeio, sempre fale com o vendedor que você quer ver a Ponta do Corumbau na maré baixa, porque daí realmente o passeio fica incrível. Quando a maré encheu, ficou uma praia como qualquer outra. E mais: se puder não vá no final de semana. Fomos num domingo, e parecia o piscinão de ramos. Muita gente.

Fora isso, não há muitos outros passeios. Mas tem um que faltou fazer: o ritual da lua cheia na aldeia indígena. Esse era um passeio que antes da morte de meu pai, jamais pensaria em fazer. Hoje eu já tenho a mente aberta para isso. Esse é um tipo de passeio que há controvérsias, inclusive a minha. Não sei se é algo exploratório e apropriado da cultura indígena, que perdeu seu propósito em troca de alguns trocados turísticos, mas acho que cada um recebe o que está disposto a receber. Talvez tenha virado mais uma atração pega turistas? Talvez. Mas prefiro dar meu dinheiro para um grupo de locais do que um conglomerado qualquer.

Caraíva me deu passeios bacanas, comida deliciosa, ambientes gostosinhos  e charmosos (sim, muita gente principalmente das grandes cidades veio para Caraiva e se instalou. Tem copo Stanley, bolsa de marca gringa na praia, mas tudo bem. Ninguém atrapalha ninguém e me senti mais acolhida em Caraíva do que Trancoso, que achei muita vibe blogueira ryka  instagramavel demais para meu gosto).

Mas como já disse aqui, Caraíva me deu mais do que prometeu. Todo dia eu conversava com alguém bacana. Alguma mina que estava viajando sozinha (separada, noiva, solteira mesmo), algum cara animado e descolado. Não, não tive contatinhos em Caraíva. Tentei até, fui em baladinhas (Beco da Lua, Forrós). Talvez na próxima vez. Vi muitos casais, grupos de amigos, mulheres que viajavam sozinhas, gays super queridos  que se tornaram uma ótima companhia. Com eles, tive papos inspiradores de abrir a cabeça, jantares gourmet e conversas infinitas em algum boteco provando bebidas locais de procedência duvidosa, como o Netuno (uma especíe de Catuaba baiana com gengibre) e o Xeque Mate. Ah, a procedência podia ser duvidosa mas a ressaca foi zero no dia seguinte. Melhor do que os drinks de Absolut nas baladas em SP.

E o que dizer das inesquecíveis contemplações na praia à noite? Com um amigo que acabei de conhecer, me sentindo (e sendo) totalmente segura, vendo a lua banhar aquele mar maravilhoso e uma paz que não sentia há muito tempo. Era o barulho do mar apenas, a brisa acolhedora da noite baiana, e meu pai do meu lado dizendo que estava tudo bem.

E meu amigo, nada de maldade, nada de drogas, só a companhia tranquila de pessoas bacanas e de alma boa que Caraíva nos proporcionou.

Em Caraíva, eu me despi da carapuça amarga que me acompanhou durante os meses de doença de meu querido papai, e me entreguei à gratidão de poder desfrutar daquele lugar. De poder ficar na praia até altas horas da noite, sem o medo de ser atacada ou assaltada, de poder ficar naquele lugar banhado por mar e rio tão próximos.

Acho que depois de meses tão tristes, Deus me brindou com uma viagem inspiradora e deixou no meu caminho pessoas incríveis. Como disse, Caraíva não é para todos. A areia é muito fofa, dói a batata da perna para se caminhar, tudo é muito rústico. Não tem o glamour de Trancoso e realmente os boys magia não estavam por lá, para quem vai com o foco de paquerar. Isso eu percebi no primeiro dia, quando um grupo de paulistas meio antipáticas estavam no Beco da Lua, na minha frente, reclamando do lugar , do excesso de mulherada e de gays e da falta de homens disponíveis. E está tudo bem, como aprendi a ser tolerante. Elas irão para Trancoso, ou Noronha, e se enfiar nos Beach Clubs.

 Eu ficarei e voltarei muitas vezes para Caraíva.