barata

Eu sou dessas que fui morar por minha conta relativamente tarde, aos 31 anos. Até então, as refeições perfeitamente calibradas com suas porções saudáveis de fibras, folhas, proteínas e carboidratos,  e as roupas limpinhas e cheirosas brotavam para mim como num passe de mágica.

Passado a fase de adaptação de morar sozinha, que é: a) depender de miojo e misto frio por várias semanas até aprender a cozinhar decentemente, b) descobrir que você realmente precisa de uma rotina de limpeza senão seu apartamento vira um muquifo do pior exemplar do programa de TV “acumuladores”  e c) é bom escutar música até as 03 da manhã sem importunar ninguém a não ser você mesmo. E é você mesma que vai perder a hora no dia seguinte já que não terá ninguém para te acordar… você descobre que você é foda. Você consegue. Você finalmente atingiu o último estágio da adolescência, do ser inútil e chupim  para a vida adulta.

Sim, você é uma sobrevivente. Um adulto independente, que lava as próprias roupas e se alimenta.  Talvez um tanto errado, uma vida um pouco mais desregrada  desde que saiu da casa dos pais, mas continua inteira.

E com isso cai o castelinho de cristal que achávamos que era a vida de morar sozinha. Antes de me mudar, imaginei várias noitadas de filmes até o amanhecer. Tomar um pote de sorvete por 2 dias e só. Ficar de pijama na sexta de noite e só tirar na segunda de manhã.  Fazer o que te der na telha, sem fazer pose de mocinha.

A área social do Castelinho de Cristal era a melhor: seria festa toda semana. Imaginei inúmeros banquetes para os amigos, várias festas do whisky, das caipirinhas, dos cosmopolitans, dos gins.  Imaginei brunchs dignos de Breakfast at Tiffany´s, jantares a la Festa de Babette, Festinhas mil de Pijama, de Fantasia, e por aí vai.

Bem, você dá a primeira festinha. Um grupo pequeno, de 8 pessoas, porque no seu minúsculo apê, já deu lotação máxima.  Uma delícia. Você arrasa como anfitriã. Daí vem a depressão pós festa. A casa está um nojo. Tem comida até na parede. 2 semanas para deixar a casa em ordem. Festa, uma por ano e olhe lá. Acaba fazendo no barzinho mesmo que é muito mai fácil.

Você acha que vai fazer comida quase todos os dias, pois agora decide por conta própria o que vai comer. Compra panelas genéricas a la Le Creuset. Imagina cardápios imensos, pratos soberbos. Depois você se toca que cozinhar para você mesma é um saco. A louça que você vai ter que lavar e o que você vai ter que comer durante TODA  a semana te faz desistir logo.  Rappi, Uber Eats? Nosso melhor amigo.

Daí você descobre que está um pouquinho passada da idade para ficar tomando sorvete por 2 dias seguidos. Piriri brabo. Volta para a salada a contragosto. Não consegue assistir nem 3 episodios seguidos de séries do Netflix porque fica na neura de dormir pelo menos 7 horas por noite.

Mas o pior, o medo maior de todas as solteiras que moram sozinhas vem na forma de criaturas gigantes que saem dos ralos e janelas do seu 14º andar (sim, estamos no fim do mundo, o apocalipse total, bestas malignas e gigantes que chegam até o 14 andar facinho facinho) com sua aparência asquerosa e suas mil patas peludas. Para completar, o ser ainda VOA, O DESGRAÇADO.  Baratas.  Só para nos lembrar que sim, estamos sozinhas e vamos ter que encarar essa peste. No calor dos infernos que estamos agora em São Paulo, a praga paulistana assola os lares das pobres solteiras.

Eu falei em algum post passado das delicias de morar sozinha. Sim, é maravilhoso. Eu deveria ter ido morar sozinha há muito tempo atrás. Mas ninguém te prepara para o saco que é ter que lavar louça, comer a mesma  comida por 1 semana (ou 2.., ou 3…), ter que comprar lâmpada, ventilador, tomada e etcs de apoio, e o pior, matar sozinha e só vocês, as temidas baratas…

(PS: confesso. No meu caso tranquei o banheiro e chamei o porteiro. Sim, eu pago condomínio – caríssimo – todo mês para isso. Não me julguem).