Eu já escrevi um texto no Blog dizendo que as novas quarentonas são a geração entre safras. https://os40saoosnovos20.com/2019/11/04/somos-a-geracao-entre-safras/

Somos a geração que saímos do clichê da mulher dona de casa, vivendo único e exclusivamente para seu marido e família. Até porque hoje, com os atuais custos de estudo e criação e filhos, é impossível apenas  uma renda sustentar toda a família.

Por outro lado, estamos exaustas porque estamos ainda no meio da jornada. Ainda não há a divisão justa de tarefas domésticas entre marido e esposa, e ainda ganhamos bem menos que os homens.

Então acumulamos 2 : o trabalho em casa e de criação dos filhos e do trabalho, ainda subvalorizado pela sociedade.

Acho que somos GUERREIRAS: não é para qualquer um. Estamos no meio do caminho, mais para o final do que para o começo.

Mas como toda jornada, dá aqueles medos e aquela inveja do que deixamos para trás. Muitas de nós já nos questionamos se a vida de nossas mães eram muito melhores porque a mulher ficava em casa cuidando dos filhos e a responsabilidade de sustentar financeiramente a família era do marido.

Com a pandemia e o isolamento, ficou muito escancarado a diferença brutal como que homens e mulheres na faixa de 40 a 50 anos vêem a criação dos filhos e os afazeres domésticos. A grande maioria de minhas amigas casadas estão exaustas. De brigar com o marido, de brigar com os filhos, porque ainda viemos e “bancamos” o padrão de nossas mães. Ainda os filhos são servidos, ainda os maridos se isentam da maior parte de trabalho doméstico.

Como já falei existem exceções. De pais solteiros, de casais que se ajudam por igual. Mas via de regra, a mulher carrega nas costas o trabalho de criação dos filhos e de cuidar da casa. Essa onda de estudo remoto só é bom para as crianças que têm menos pressão da aula presencial e podem ficar a maior parte do tempo jogando videogame.

E com a pandemia, mais desemprego. E quem está sendo a classe mais atingida? A nossa, de mulheres de 40 a 50 anos.

https://us.yahoo.com/money/the-coronavirus-pandemic-has-undone-years-of-work-for-women-yahoo-finance-survey-213305652.html

Em parte porque estávamos trabalhando em áreas que foram mais afetadas pelo isolamento. E também por ter a maior responsabilidade da criação dos filhos, nos ocupamos com trabalho part-time e de serviços, os mais afetados pela crise.

Eu trabalho voluntariamente quando posso para uma ONG que Inspira garotas de 10 a 16 anos a ingressarem em carreiras rotuladas como “masculinas” como engenharia e tecnologia. Pois bem, a área de tecnologia está bombando agora na crise. Há disputa a tapas pelos programadores e desenvolvedores. Infelismente, pouquíssimas mulheres. Não porque as vagas excluem o universo feminino. É porque há poucas mulheres com o estudo nessa área. Numa sessão com 100 alunas, perguntamos o que elas queriam ser quando crescer. Os vieses de gênero já estavam lá: todas queriam ser pediatras, veterinárias, enfermeiras.

Não estou tirando a magnitude e nobreza dessas carreiras, de forma alguma.

Mas talvez um dos maiores dons da mulher, que é o de Cuidar, é também nosso calcanhar de aquiles na hora de escolher uma profissão: sempre tendemos para as profissões de cuidar, de serviços. Fugimos dos números, das estatísticas, da física. Não deveríamos.

Com fé, chegaremos ao final. Ou pelo menos ao pedestral.

Acho que a pandemia veio para acelerar isso. As crianças não poderão ser tão mimadas, temos que seguir o exemplo das crianças europeias, que são muito mais independentes. Não podemos aceitar maridos que não fazem a divisão justa de tarefas domésticas.

Na nossa geração, mais difícil. Para minhas amigas casadas e sofredoras, resta a resiliência para não arruinar o casamento.

Mas para a geração dos filhos e filhas, ah, não vai ter isso não! Quero viver para testemunhar isso!

Abraço (virtual) a todos. Que podemos nos ajudar para passar por este momento com mais sabedoria e humanidade