
Das coisas que aprendi aos 40: você começa a perceber que tem momentos que serão eternizados enquanto está vivendo neles.
Explico: até meus 40 anos, muitos dos momentos que considero decisivos ou marcantes em minha vida só fui descobrir depois de algum tempo (em alguns casos, depois de muito tempo) que ele se passou.
Foi o momento de férias na casa dos meus avós, foi o momento que ela me ensinou a famosa receita de brigadeiro, foi o momento que eu me posicionei perante minha família sobre não ter filhos, foi o momento que decidi me afastar de algumas amizades que a curto prazo me afetariam em finais de semana divertidos mas me acrescentariam em paz futura.
E talvez eu me arrependa de não ter feito esse movimento mais cedo, de não dar a devida importância a ele, ou ter sorvido com mais empenho este momento.
Exemplo que todo mundo pode se assemelhar: uma paixão. Tive uns dois boys magia na minha vida que serão magia para sempre. Talvez na hora eu quis me fazer de desinteressada ou a rainha do gelo. Mas que hoje eu talvez me arrependa de não fotografar mentalmente cada segundo passado com eles, guardado mais memorias fresquinhas, ter tirado mais fotos (não para ostentar nas redes sociais e sim para ter uma memória fotográfica mais intensa) e talvez ter sido mais intensa, mais carinhosa.
Mas então se você chega aos 40 , você consegue ter um pouco da sabedoria necessária para distinguir imediatamente estes momentos mágicos e trabalhar todo nele.
Não é só porque você está ciente que é um momento mágico que ele não vai ser duradouro para sempre. Será e ainda melhor, porque você está consciente.
Este final de semana, numa manobra esforçada de minha mãe, conseguimos juntar nosso núcleo familiar mais intenso (pai, mãe, filhos e netos) e nos enfiar num hotel fazenda no interior de São Paulo. A desculpa, ou o motivo, era comemorar os 50 anos de casado de meus pais .
Foi uma viagem que saiu às pressas, depois de um baita susto que meu pai nos deu, sobre sua saúde. Após baterias e mais baterias de exames, ficamos um pouco mais tranquilos.
E nos 47 minutos do segundo tempo, minha mãe conseguiu reservar 3 quartos para a família num hotel confortável em São Roque. Talvez fosse apenas uma viagem.
Uma das tantas viagens que fizemos em família, com algumas risadas, alguns desencontros, muita jogatina de tranca.
Mas eu sabia que seria um evento único.
Cancelei tudo que tinha (de trabalho a atividades pessoas, e olhe que não foram poucos), e me propus a ter a experiência desde sexta à tarde.
E foi incrível. Um final de semana sem brigas de irmãos, sem brigas de sobrinhos, e meus pais podendo acompanhar uma família de filhos maduros e netos que aos poucos estão encaminhando para uma vida adulta.
E numa mistura de sentimentos , sei que pode ser um dos últimos momentos da família reunida. Meu sobrinho irá estudar no estrangeiro e talvez nunca mais voltar para o Brasil. Hoje estamos todos com saúde, mas e o futuro? Só a Deus pertence. Espero que ele seja maravilhoso a ponto de nos dar mais momentos assim. Talvez um tanto a mais.Mas já o que tivemos foi abençoado.
Meu pai passou por muitos apuros de saúde recentemente e vai saber quando ele terá saúde suficiente para se comunicar conosco, para dirigir, para dar longas caminhadas e interagir com os seus netos.
A respiração está mais sôfrega, os passos estão bem lentos, a subida está sofrida. Ele passa a escolher poucos momentos para estar junto. E os poucos duraram uma eternidade maravilhosa. Uma partida de bilhar zoando da incapacidade de mira de meu sobrinho. Uma competição de pescaria no qual ele oculta sua inabilidade de pescador diminuindo os feitos dos netos que deram uma lavada nele. E muitas risadas verdadeiras.
Eu digo que mesmo não sendo mãe, eu entendo quando a felicidade dos outros é a minha.
Eu morri de felicidade vendo a interação, a competição, a zoação entre meus pais e meus sobrinhos. A cada risada, a cada gargalhada meu coração explodia de amor. E sabia que naqueles poucos momentos, eles seriam eternizados e serão um dos momentos mais importantes de nossa vida.
Levei umas vodcas na mala, mas não me embebedei. Queria estar plena para o momento. Vi pouca rede social (juro mesmo, celular ficou no quarto o tempo inteiro ou só para registrar as trapalhadas de meus pais e meus sobrinhos) , nem prestei atenção nas pessoas alheias ao nosso redor.
Pessoas quarentonas como eu: quando perceberem que estão vivendo um momento inesquecível, se agarrem a ele e façam o melhor acontecer. Para mim, este final de semana será eterno e durará para sempre. Além de virar estrelinha para a eternidade.
Olá Monica,
É muito quando paramos, refletimos e somos gratos. Ter consciência e realmente aproveitar de forma integral, verdadeira a companhia dos seus pais. Obrigada por compartilhar.
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