(aviso: textão escrito na insônia da madrugada, mas um dos mais íntimos que fiz até hoje no blog)

Já ouvi essa expressão de alguém: “o lugar é que escolhe você”

Eu acredito piamente nela, até porque acabei de voltar de uma microviagem de 4 dias que me ajudou muito.

Cada um tem seu lugar mágico, seu confort place, aquele que você já sabe como chegar, que talvez não deveria voltar porque já não tem o efeito surpresa, mas é tão bom que cada vez continua sendo uma viagem diferente, porque sim, o lugar te adotou.

Tem amiga minha que ama Trancoso, que toda vez que vai para lá acontece algo bom, como um boy magia inesquecível, uma festa maravilhosa, coisas boas do universo. Para mim, não senti nada.

Para mim, é Boipeba. Já falei dela em inúmeros posts no meu blog.

Uma ilha com menos de 1000 habitantes no sul da Bahia. Só se chega de barco (e leva um dia inteiro partindo de Salvador para chegar). Não tem sinal de internet na ilha, não tem balada todas as noites. E tomara que seja assim para sempre, pois o excesso de humanos sempre emporcalha e instagramaniza demais o lugar.

Eu tenho vivido um dos períodos mais críticos de minha vida, atualmente.

 Tenho tentando viver de forma normal. Tenho ido viajar até com uma certa frequência para períodos curtos e destinos perto. Tenho ido encontrar amigos e a restaurantes. Voltei até para a academia.

Mas ver um ente muito próximo ser acometido de uma doença gravíssima, nos faz perder nosso chão.

Foi um ano terrível  esse para mim. Tive muitas realizações, mas essa de saúde sobrepôs todas as noticias  e conquistas boas.

E foi lendo um conto antigo meu, sobre as adversidades da vida que se não te matam, te fortalecem (outro textão https://os40saoosnovos20.com/2021/06/28/o-que-nao-nos-mata-nos-fortalece/)

que eu descobri até beleza nesse período sombrio que estou vivendo.

Além de um crescimento pessoal absurdo.

Eu sou uma pessoa agitada e ansiosa, apesar de minha aparência plácida, geramente alegre e que remete a um panda (não por acaso, um dos meus apelidos).

E estou fora de mim, dada as circunstâncias atuais da enfermidade de meu pai.

É impossível não ser acometida a cada instante por pensamentos de culpa (por estar se divertindo, comendo, vivendo bem), medo, tristeza, pânico e arrependimentos.

Para me distrair, nos momentos de calma , eu fui viajar recentemente para o meu confort place, aquele lugar que já fui várias vezes e ninguém entende por quê, Boipeba .

Era uma viagem para ficar sozinha. Eu fui sozinha.

Baixei meus episódios de Netflix e paguei o Spotify para os possíveis momentos de solidão (e alguma chuva prevista), e peguei um quarto de pousada só para mim, para pensar na vida e respirar minha alma somente. E ficar com meus pensamentos, e disseca-los, dos mais sombrios possíveis.

No entanto, e olhe como a vida é regrada por Deus (e eu apesar de não praticante, creio absolutamente nele), eu não passei sozinha os próximos dias. Não tive muito tempo de conectar com meu eu  interior, mas que fique para a próxima viagem.

Mas só aconteceu porque eu viajei sozinha!

Não, não encontrei um boy magia ou um super grupo de amigas. Nem tive festas homéricas.

No primeiro dia, em direção a praia de Moreré, encontrei um gringo que me ajudou a atravessar um rio entre as 2 praias. Bate papo rápido, unimos um ao outro para fechar passeios nos dias posteriores (em 2 é mais barato e dá animo para fazer) e para rolês no minúsculo centrinho da cidade.

Não, não houve nada amoroso entre nós. Sem química amorosa, mas com a mágica dos estranhos que se ajudam para fazer uma viagem ser mais alegre e compartilhada, fizemos passeios de quadriciclo, de visitas as piscinas naturais, de caminhada nas praias.

Num passado até recente, eu pegaria esse gringo e contaria para minhas amigas como tive a faceta de pegar um gringo numa ilha deserta como Boipeba, me achando a Deusa irresistível e sortuda.

No entando, sem forçar nada, ele não fazia meu tipo, eu provavelmente não o dele (tivemos uma conversa sincerona e animada sobre paquera, como só amigos assexuados entre si fazem), tive uma boa e agradável companhia de viagem. Ele meio que me protegia com sua presença de moços locais um tanto saidinhos e paqueradores, e eu o animava para sair com as meninas que estavam a fim de um gringo. E é sobre isso.

E no final, foi muito mais legal do que se eu tivesse conhecido um gringo maravilhoso, do meu tipo, pegasse ele . Até porque não tenho maturidade para aceitar uma noite apenas e no dia seguinte ele  paquerando a próxima brasileira mais bonita ou jovem. Perderia fácil a companhia.

Daí a segunda mágica da viagem: junto com o gringo (que provavelmente estava de olho nas meninas) conheci duas moças que  pasmem, perderam seus pais para o câncer. Eu torço por mais meu profundo coração que eu ainda não faça parte desse time. E  Deus as entregou no meu caminho.

Sobre a viagem, eu creio piamente que ajuda o seu Lugar adotado ser um local mais tranquilo, sem tanto agito, sem tantas opções. Poucas pessoas, poucos restaurantes , um único mercadinho, um único lugar onde as pessoas se juntam para ver o por do sol. Com Boipeba é assim, não precisa e não deve ser mais do que ela já tem.

Um parênteses: já escrevi aqui no Blog e volto a reforçar que as palavras mais sábias , que mais lhe ajudam  são de pessoas que vivenciaram sua situação. Por mais antiga que seja a amizade, ou mais próxima, no máximo elas não atrapalham. Na maioria, não ajudam em nada, sorry.

Uma delas infelizmente não tive a oportunidade  de conhecer bem, porque ia zarpar no dia seguinte, mas a outra, ficou os dias que eu ficaria na ilha.

E digo para quem não acredita na força xóven: essa moça é xoven: ela tem 28 anos, e me trouxe uma clareza em poucas palavras do que estava vivendo  que valeu a viagem só pelos conselhos e palavras sábias que me passou. Não eram exatamente de conforto, daquelas prontas, carimbadas, mas de só quem teve a sabedoria adquirida de ter passado pelo que estou passando.

Eu ainda choro muito pela situação. Mas os dias seguintes da viagem, quando voltei, das noticias difíceis e derradeiras que já eram meio esperadas, foram recebidas de forma mais suave por mim.

“ Tudo vai dar certo do jeito que tem que ser”.

Eu tive uma terça feira com ele incrível, em pleno hospital, com tanta generosidade entre nós. Pela primeira vez ele não estava me condenando porque viajei (porque ele sempre foi o trabalhador mor, que viajar era pecado capital para os negócios e o crescimento financeiro), mas admirando minhas fotos e encantando por um lugar que ele talvez nunca conhecerá.

Ele pela primeira vez falou de seu arrependimento de não ter uma religião para esses momentos mais derradeiros  da vida, de ser mais resiliente com os defeitos de outras pessoas, e que cada um faz por um motivo e pela sua história pela sobrevivência.

E foi um encontro mágico, que dura uma eternidade. Talvez antes da viagem eu estaria impaciente para voltar para o jantar com meus amigos, querer indagar o médico dos tratamentos atuais, estar indignada por meu irmão ir muito menos que eu ao hospital.

Tem gente que não tem isso durante toda uma vida, mesmo até morando no mesmo lar que seus pais, não é mesmo?

Eu temo usar essa palavra instagramável, mas o termo correto é gratidão mesmo. Em inglês, seria algo como Surrender, como se entregar ao momento presente.

E assim o fiz. Eu cancelei e me fechei para todos os compromissos sociais nas próximas semanas.  Para estar presente com meus pais, para não ter pressa de ir embora. Para aceitar um convite de ultima hora de minha mãezinha para ir ao shopping e se distrair fazendo compras na liquidação.

Pela primeira vez deixei de responder imediatamente as mensagens de amigos e conhecidos (até porque a maioria deles demoram dias para me responder, mas quando eu não respondo acham esquisito). E vou continuar assim. Vou responder quando quiser, e se quiser.  Coisas bestas. Não porque não os ame e não os considere, mas porque responder que ele não está bem a cada 10 dias me dói e me cansa. E vamos dizer, é inútil.

E estou tentando viver um dia de cada vez. E comtemplar como um milagre de Deus, porque é.

Eu acho que foi uma viagem transformadora.

Devo confirmar isso depois para vocês, de uns anos.

Eu quero ser mais egoísta. Penso demais nas pessoas ao meu redor. Por isso pra mim viajar sozinha é tão libertador, porque quando viajo em grupo ou acompanhada penso mais no outro do que em mim mesma.

Eu quero ser mais leve. Quem me conhece sabe que estou acelerada querendo adiantar tudo, o checkin do voo, os compromissos, as respostas. Na viagem, eu pratiquei muito o : espere e verás.

Eu quero me desligar mais de redes sociais, de whatsapp toda hora, de responder o povo imediatamente como amiga preocupada, e menina prestativa.  Tô me cansando de ser sempre a pró ativa, a que resolve, a que está sempre de prontidão.

Quando as nuvens vierem porque elas voltam e a vida nos dar um sopetão mais uma vez? Sempre terei Boipeba. Há algo de mágico naquele lugar, naquela água, naquela brisa do mar e rio. E as pessoas mágicas que cruzam nosso caminho sem elas saberem.

E por isso faço das palavras das meninas a minha, com toda a força de meus pulmões: Viajem Sozinhas! E descubram seus lugares que vão lhe adotar de corpo e alma.